quinta-feira, 17 de novembro de 2011

UMA HISTÓRIA DE MOCINHOS E VILÕES

Todo mundo conhece alguma clássica história de Super Herói. Pode ser o Super Homem, o Batman, o o He Man, Os Cavaleiros do Zodíaco, os Thundercats, Power Rangers, As Tartarugas Ninjas, As Meninas Super Poderosas, o Chapolin Colorado (só pra zoar rsrsrs)... enfim, para ilustrar. São histórias de heróis. E todas, todas tem o mesmo perfil: era uma vez um problema causado por um terrível vilão, veio o herói, resolveu o problema, ganhou a admiração de todos, o beijo da mocinha e todos viveram felizes para sempre.

Essa história é própria do nosso mundo ocidental. Nós adoramos histórias maniqueístas. Ou você é o mocinho, o herói, que representa o bem e tudo o que há de melhor em nossa sociedade ou você é o vilão, o mal, que representa toda a escória, o que há de pior em cada povo.

Não posso deixar de pensar na Ocupação da Favela da Rocinha dessa forma. De um lado temos os traficantes, o traficante “Nem”, em especial, representando o lado podre, o aspecto mais negativo que temos em nossa sociedade. Nessa história maniqueísta, os traficantes são os vilões responsáveis por revender drogas e matar tantos jovens, ou em decorrência do vício ou em decorrência das dívidas geradas pelo tráfico. Sim, os traficantes são os que mantém um comércio que gera morte e todos os dias tornam nossa vida mais insegura.

Mas, do outro lado, temos o Estado exercendo seu poder de polícia através do BOPE, que é adorado por grande parte da população, graças, principalmente, aos filmes “Tropa de Elite” e “Tropa de Elite II” (E quem não gosta desses filmes? Fala sério! O Wagner Moura tá muito gato nessa história). O BOPE representa o que há de melhor no poder estatal. São policiais bem preparados e, com certeza, de todas as polícias, é a menos corrupta.

O duelo entre mocinhos e vilões encontra seu ápice: o BOPE chega na Rocinha, espanta os traficantes, prende o “Nem” e... todos vivem felizes para sempre!

Será? Tudo bem que eu gosto de algumas histórias clichês (algumas, um seleto grupo), mas essa, definitivamente, não colou.

O “Nem” foi preso, mas, será que não podem existir outros traficantes como ele? Tudo bem que o cara tinha um grande poder ali, mas, falando numa linguagem tipicamente capitalista, ele parecia um grande varejista, mas não passava disso. O atacado continua intacto, imexível. Ou seja, vão aparecer outros “Nem” por aí já que os grandes traficantes, os atacadistas desse comércio ilegal, estão por aí, numa boa.

Armas foram apreendidas. Que piada! Armas são os objetos mais fáceis de se comprar. E no tráfico, é mais fácil ainda. Aliás, essa apreensão talvez até movimente o comércio ilegal de armas. Possivelmente os traficantes podem trazer coisas novas e agitar o tráfico com novos produtos. Ora, novidades sempre fazem sucesso (pra quem não entende ironias, é bom avisar que essa foi uma. Ah, a ironia continua abaixo).

E o mais legal ainda dessa história é que a Mídia acompanhou toda a operação. Não, não há nenhum interesse em mostrar ao Mundo que o Rio de Janeiro, a cidade mais visada dessa década que iniciamos, é uma cidade segura, pronta para acolher turistas. Não há interesse algum em promover um governo estadual que já se mostrou com resquícios de Governo Fascista e, mais, não há interesse algum em promover um Estado Policial disfarçado de Estado de Segurança.

Nós estamos retrocedendo enquanto Estado Democrático de Direito e isso me deixa puta da cara. Se alguém resolve discordar dessa política policial de repressão e opressão é taxado de “defensor de bandido”, o que é típico do maniqueísmo maldito que vivemos.

Pois eu discordo. Segurança é sinônimo de assegurar, que por fim é sinônimo de garantir (não fui eu que inventei isso, está tudo no velho Aurélio). Mas, assegurar o quê? Assegurar todos os direitos sociais previstos na Constituição Federal (artigo 6º) que tá todo mundo careca de saber. Ou seja, segurança e políticas públicas para toda a população são sinônimos, ou deveriam ser.

Mas parece que o Estado não se lembra disso.

Para quem é fã do BOPE eu sinto informar que seus heróis não são tão heróis assim. Se um Estado como o nosso, em que se deve prevalecer os Direitos Humanos (pois é... é o que diz a Constituição no artigo 4º, inciso II) permite que sua Polícia viole direitos fundamentais de seus cidadãos para encontrar vilões, tem alguma coisa muito errada.

Será que é muito pedir pra se cumprir a droga do artigo 5º c/c artigo 6º da Constituição?

Para um Estado com cara de mocinho é. O problema é que o Estado só tem cara de mocinho. Ele faz esses “shows” e nós fingimos que acreditamos que o Estado se importa com a gente. Mas o problema não se resolve... jovens vão continuar morrendo pelo tráfico. E o Estado vai continuar esquecendo de cumprir políticas públicas e evitar que surjam vilões.

E eu escrevi tudo isso pra dizer que o Estado é o vilão dessa história. E que com sua omissão nos setores primários cria vilões ainda mais poderosos. E esses vilões estão agindo e tomando conta de todo o nosso país.

“E agora, quem poderá nos defender?” Boa pergunta. O Chapolin Colorado, o Super Homem, Os Cavaleiros do Zodíaco, As Tartarugas Ninjas não vão vir. Não temos heróis e mocinhos. Temos vilões e vítimas. E o fim, se continuar assim, não será com a admiração de todos, muito menos com o beijo da mocinha e menos ainda com o final feliz.

Sim, tem algo muito errado nessa história.

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