sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Diante do Presépio

        
           Diante do Presépio admirei as vaquinhas, os bois e ovelhas. Eles, mais que todos ali, precisaram ceder seu lugar para a criança que acabara de nascer. Seu gesto se chama doação, e demonstrou maior humanidade que a atitude dos que se recusaram a acolher o menino. Mostrou-nos ainda que qualquer ser vivo pode fazer algo de bom pelo próximo. Basta abrir o coração.
            Diante do Presépio admirei os anjos que cantavam “Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados”. Seu canto, sua arte, anunciou a salvação que a humanidade por tanto tempo esperou. Diante dos anjos não posso deixar de pensar nos artistas (cantores, artistas circenses, atores, escritores, poetas e tantos outros) que com sua arte anunciam a realização de um sonho e transmitem uma mensagem de alegria e esperança para todos.
            Diante do Presépio admirei os pastores que foram correndo para Belém. Os pastores constituíam uma classe marginalizada e esquecida na região da Judeia. Ninguém se importava com eles. No entanto, foram os primeiros a compreender a mensagem de amor e paz presente naquela criança e assim, correram ao seu encontro para ver a salvação diante de seus olhos. Penso nos pastores de hoje: índios, ribeirinhos, negros, homoafetivos, praticantes de religiões não cristãs, portadores de HIV, drogados, ladrões, ex-presidiários, idosos, mendigos, marginalizados em geral, pobres e tantos outros. Me deparo percebendo que negamos direitos a todos eles. No entanto, o Ser que tanto adoramos quis primeiro se manifestar para eles. E fico com vergonha de não seguir os mandamentos do Mestre.
            Diante do Presépio admirei os três magos do oriente. Cada um com sua cultura, etnia, nacionalidade e coração aberto para conhecer a salvação. Os três se uniram e juntos chegaram até o Rei dos reis. Talvez, eles queiram nos dizer que só a partir da união de nossas diferenças é que chegaremos até a paz que tanto almejamos. Somente quando brancos e negros, índios e mestiços, cristãos e muçulmanos, judeus e budistas, heteros e homoafetivos, lobos e cordeiros se unirem, é que chegaremos até o Menino Deus, o Deus que tanto procuramos ao longo dos séculos.
            Diante do Presépio admirei a estrela guia, que foi a bússola para os magos no caminho até Belém. No entanto, senti um tanto de inveja. Através de sua luz, ela guiou a humanidade até o Menino, e depois assumiu sua posição de simples estrela, deixando a luz maior da criança brilhar. Quero muito aprender com seu gesto. Quero ser como a estrela que leva os homens para a paz, mas depois se recolhe ao seu lugar, e continua brilhando humilde, deixando que a verdadeira luz manifeste o seu brilho de paz.
            Diante do Presépio admirei a figura de José. Trabalhador, marido, pai. O homem que confiou na Palavra de um anjo e recebeu Maria por esposa. Homem silencioso, assistiu tudo quieto. Sim, diante de seus olhos se cumpriram as promessas de salvação. Em José eu penso em todos os pais que assumem seus filhos e acreditam que cada criança pode mudar a humanidade. Esses homens não são de falar muito. Mas seu silêncio é insignificante perto dos seus grandes gestos de amor. O maior bem que alguém pode fazer à humanidade é assumir a educação de uma criança e educá-la dentro dos princípios da justiça e do amor.
            Diante do Presépio admirei a figura de Maria. Jovem, mãe, mulher. Ela disse sim ao Anjo, ainda sabendo que uma lei excludente e preconceituosa poderia tirar-lhe a vida. Ela assumiu a missão de ser a mãe do Cristo e educá-lo para ser o portador da maior mensagem que o mundo assumiu. Olho a figura de Maria e penso em como “tudo guardava em seu coração”. Diante de Maria eu penso nas milhares de jovens que dizem sim a vida, assumem seus filhos e os educam da mesma forma que Maria fez com Jesus. Ser mãe e mulher numa sociedade marcada pelo machismo e a indiferença é uma missão divina, por isso, agradeço a Deus por todas as mães que são verdadeiramente mães e peço que Maria interceda a Deus para que todas as mulheres assumam a sua missão de amor de amor nesse mundo, seja como mãe, seja como portadora da mensagem de amor. Sim, em Maria, todas as mulheres são contempladas por Deus.
            E, por fim, admirei o Deus que se fez menino. A maior prova de amor que a História assistiu. A Divindade se faz Humanidade. O maior de todos os seres se torna o mais frágil, o mais dependente, o mais pobre de todos: uma criança recém-nascida. Contemplo o Menino e sua mensagem se torna clara: Deus veio para o meio dos pobres e abandonados para que nós sigamos o seu exemplo e estejamos ao lado dos pobres e abandonados. Sim, Deus é “Deus Conosco”, estamos na plenitude dos tempos.
            Diante do Presépio eu tenho a certeza que cada vez que, por amor, me coloco ao lado dos mais pobres e excluídos, Deus renasce em mim. E a angústia chega ao seu fim: diante do presépio, eu posso acreditar que a utopia, o outro mundo é possível.

Um comentário:

  1. Primeiramente, Feliz Natal...
    Que lindo o texto, a medida que a leitura fluía ia imaginando a cena...
    vc escreve muito bem...bjão

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